terça-feira, 19 de maio de 2009

Como combater o desemprego entre os jovens qualificados?

A 4ª sessão da JSD sem Fronteiras debateu um dos principais temas que preocupa a nossa juventude. No decorrer dos últimos anos, todos os Governos têm defendido que um dos grandes desígnios nacionais é a aposta na qualificação dos portugueses. Contudo, a taxa de empregabilidade destes jovens não tem acompanhado o aumento das suas qualificações. Até há alguns anos atrás, eram as empresas que iam aliciar os jovens finalistas nas faculdades para as suas empresas. Hoje, as empresas continuam a promover sessões de divulgação das suas ofertas de trabalho nas universidades, mas o número de alunos inscritos nos seus programas de estágio são muito superiores às vagas existentes. Empresas amplamente conhecidas como a PT e a EDP chegam a receber algumas centenas de currículos por dia. Segundo dados disponibilizados pelo INE, no 4º trimestre de 2008 a taxa de desemprego entre os jovens com um curso superior era de 17,4%. Existe, portanto, um grande desafio emergente ao nível do emprego entre os jovens qualificados. Combater este problema é um imperativo a nível nacional e europeu.

Em primeiro lugar, clarificou-se a noção de “jovem qualificado”. De facto, por jovem qualificado deve-se entender não só os detentores de cursos superiores, mas também todos aqueles que possuem cursos técnico-profissionais altamente especializados. Os cursos técnico-profissionais podem desempenhar um papel extremamente importante na nossa sociedade, pois vem colmatar a grande lacuna existente no mercado nacional de quadros intermédios qualificados e especializados. Na grande maioria dos casos, a oportunidade de emprego para estes jovens será superior à que acontece com um jovem recém-licenciado. Assim, torna-se necessário que o Governo aposte cada vez mais neste tipo de cursos e os alunos devem olhar para estes cursos como verdadeiras oportunidades para o seu futuro.

Em segundo lugar, discutiu-se a ideia da existência de uma lista pública com a indicação da taxa de empregabilidade de cada curso superior. Seria certamente uma ideia interessante que iria aumentar a competitividade entre as instituições do ensino superior. Paralelamente, iria fazê-las necessariamente aumentar o seu interesse e empenho na colocação dos seus alunos no mercado de trabalho. Algumas instituições ainda olham para a sua missão quase exclusivamente como o ensino e aprendizagem de conteúdos científicos e demasiado teóricos, sem se preocuparem com as necessidades concretas do mercado de trabalho e no estabelecimento de relações de cooperação com o tecido empresarial. Para além disso, existe actualmente uma grande panóplia de cursos superiores, tanto público como privados, que não garantem à partida uma taxa elevada de empregabilidade para os seus alunos. Contudo, estes cursos continuam a existir e possuem um grande número de alunos, devido às suas notas mínimas de entrada serem demasiado baixas. O Estado deveria regular com maior atenção estes cursos e não permitir a abertura de tantas vagas para os cursos cujas saídas profissionais são muito limitadas. Para além disso, o Estado deve garantir que todos os jovens dos secundário têm um acompanhamento ao nível da sua orientação profissional antes do seu ingresso no ensino superior.

De seguida, apresentou-se o caso da Suécia, nos quais os jovens têm apoios financeiros por parte do Estado para prosseguirem os seus estudos superiores em outras universidades fora dos seus locais de origem e também na procura do seu 1º emprego. Sem dúvida, que este modelo não pode ser transporto directamente para Portugal, mas lança importantes ensinamentos. Seria desejável que todos os jovens pudessem escolher a sua universidade tendo em conta as suas áreas de interesse e os seus anseios profissionais. Relativamente aos restantes países da Europa, Portugal é um dos países que apresenta uma taxa mais baixa de estudantes no ensino superior que estudam fora dos seus locais de origem. Aliás, este é um dos principais condicionalismos com que se depara um estudante do ensino secundário que pretenda ingressar no ensino superior. Seria desejável que o Estado opta-se por um modelo de apoio financeiro individual a cada jovem estudante, em detrimento do apoio directo às universidades. Este é um modelo que deve ser considerado num futuro próximo.

Um outro aspecto abordado ao longo da sessão foi a questão dos estágios não remunerados. É consciência geral de que todos os estágios devem ser remunerados, mesmo que estes valores não sejam muito elevados. É socialmente reprovável que um empresário possua vários estagiários sem qualquer remuneração na sua empresa e que, muitas vezes, estes jovens fiquem encarregues da realização de tarefas que não estimulam o seu crescimento ao nível de competências técnicas e humanas. Temos consciência de que existem várias carreiras profissionais, como é o caso dos advogados, em que o estágio é de grande importante e tipicamente não remunerado, mas defendemos que as empresas, o Governo e as associações, devem fazer o esforço adicional para oferecer estágios de qualidade e com uma respectiva remuneração.

Por último, foi analisada a temática do empreendedorismo entre os jovens qualificados. O empreendedorismo pode constituir-se como uma excelente alternativa para os jovens que se procuram lançar no mercado de trabalho. Nos últimos anos, assistiu-se a um esforço assinável por parte do Estado, das Autarquias e das Universidades em promover concursos e iniciativas ao nível da criação de novas empresas de base tecnológica. Nesta área já existem muitos programas e vários tipos de apoio, mas todas estas iniciativas deveriam estar melhor articuladas entre si, e deveria-se centrar esforços na área da promoção e divulgação destas iniciativas junto dos jovens. Contrariamente à culta americana, em que os jovens são incentivados em lançar-se numa aventura empresarial e no qual um eventual insucesso desta iniciativa é encarado de uma forma positiva, em Portugal ainda existe muito o receio de se falhar e a sociedade culpabiliza em demasiado os promotores desse projecto pelas suas eventuais falhas. Esta é uma mentalidade que terá necessariamente que se alterar, e as universidades, empresários e capitais de risco podem desempenhar um papel importante. As universidades devem assumir um papel cada vez mais relevante no fomento do empreendedorismo entre os seus jovens alunos. Empresários conhecidos do nosso meio empresarial deveriam ser convidados em assumir uma presença mais sistemática junto das nossas universidades, através da existência de um programa, um curso, uma cadeira ou um conjunto de seminários. Um professor, por muito bom que seja, não consegue transmitir ao estudante a vivência empresarial e o conjunto de desafios e oportunidades com que o empresário se depara. A criação de disciplinas bicéfalas com duas pessoas diferentes, o académico mais de gema e um empresário, poderia ajudar a fomentar o empreendedorismo no ensino superior e iria permitir fazer a ponte entre as escolas do ensino superior e as empresas.