quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O impacto da instabilidade na educação no rendimento dos alunos

Foi numa noite de inverno e com alguma chuva que se realizou a primeira sessão da iniciativa JSD sem Fronteiras. Foi, sem dúvida, um debate muito interessante, em que os jovens puderam expressar livremente as suas opiniões e oscultar a opinião dos outros. É num clima informal e de respeito mútuo que pretendemos que todas as sessões decorram. É também nosso desejo que os jovens possam dar um contributo cada vez maior à sociedade, pois possuem opiniões sérias sobre os mais diversos temas do nosso quotidiano.

Durante esta sessão foi notório que os jovens estão muito preocupados com o actual cenário de crise na educação. Actualmente, os professores encontram-se desmotivados e com grandes problemas em cumprirem o seu papel de ensino na escola pública. Exigi-se muito aos docentes, mas não se lhes dão as condições mínimas exigidas para que os objectivos propostos possam efectivamente ser atingidos. O rendimento dos alunos será necessariamente afectado, sobretudo devido à desmotivação da classe docente, pois as faltas efectivas motivadas pela greve, apesar de terem o seu impacto, poderão ser recompensadas com aulas extras. Contudo, o sentimento de desmotivação e desorganização não poderá ser combatido de igual forma.

O programa estipulado para este ano lectivo muito dificilmente será cumprido, de forma a que os alunos tenham capacidade de assimilar a matéria dada durante as aulas. Contudo, existe também o sentimento de que os resultados dos exames não irão traduzir a pior preparação dos alunos, uma vez que o Ministério, muito provavelmente, optará pela elaboração de exames bem mais acessíveis, algo que já aconteceu aquando dos exames de matemática do último ano lectivo. Existe uma excessiva preocupação do Governo em produzir estatísticas “bonitas”, no qual seja visível uma melhoria muito acentuada do rendimento dos alunos. De facto, o governo deveria era estar preocupado com os conhecimentos efectivamente adquiridos por estes alunos, que irão constituir o mercado de trabalho do nosso país. As estatísticas, só por si, não permitem avaliar o grau de preparação dos nossos alunos para um mercado de trabalho cada vez mais exigente.

Outra opinião interessante de se analisar diz respeito à ideia de quem serão os estudantes mais prejudicados com esta instabilidade na educação. Nesse ponto, apareceram duas correntes de opinião: uma defende que serão os alunos do 12º ano e todos aqueles que têm exames nacionais este ano; a outra corrente defende que todos os alunos dos vários níveis de ensino serão prejudicados. Parece-me óbvio que ambos poderão ter razão. É minha opinião, de que a curto prazo serão os alunos do 12º ano os mais prejudicados, pois irão estar pior preparados para a universidade. A médio e longo-prazo todos sairão prejudicados, pois não terão bases de conhecimento para estarem preparados para os desafios e níveis de exigência dos anos seguintes. Uma má preparação dos alunos num ano lectivo, terá necessariamente consequência no ano lectivo subsequente.

Um outro aspecto que mereceu preocupação diz respeito ao modelo de organização das escolas públicas e privadas. Sabemos que nem todas as escolas privadas funcionam bem, mas quando olhamos para os ranking dos resultados das escolas verificamos que os primeiros lugares encontram-se dominados por estes estabelecimentos de ensino. A actual crise na educação pública irá agravar o fosso entre a escola pública e privada, tornando o ensino de qualidade num bem apenas acessível a quem possui maior capacidade económica.

Por fim, foram abordados outros temas que se encontram directamente relacionados com a crise no sector da educação, nomeadamente o processo de avaliação dos professores e a existência de um sistema de quotas nessa avaliação. Este acabou por ser um dos pontos mais controversos da sessão, pois se todos defendem a avaliação dos professores, nem todos estão de acordo com a existência de um sistema de quotas. Deveremos ter presente que nem todos os professores podem ser considerados excelentes e consequentemente atingirem o topo da carreira, o que significa que terá que existir sempre um sistema de quotas. Contudo, a aplicação de um sistema de quotas rígido que não tem em atenção as especificidade de cada escola poderá não ser a melhor solução. Outro tema superficialmente abordado, diz respeito ao excesso de burocracia no qual os professores se encontram mergulhados e à tabela salarial dos professores. Neste último ponto foi notório que existe um grande distanciamento de vencimentos entre os professores que se encontram no topo da carreira e outros que ainda se encontram no seu início. Aliás, este é um problema que é comum à grande maioria das carreiras da função pública, e que permite que os mais antigos na profissão se acomodem nos seus lugares, e que os jovens não se sintam devidamente recompensados.

Em suma, gostaria de afirmar que a escola tem um papel muito importante na educação dos alunos, mas a educação dos jovens e das crianças não depende só da escola. A educação é também feita no seio familiar e esta componente influencia fortemente o comportamento e rendimento dos alunos na escola. Professores e alunos são igualmente importantes no sistema de ensino e ambos deverão trabalhar em conjunto em prol de um sistema de ensino mais qualificado e que prepare melhor os jovens para os desafios da sociedade actual. Não faz qualquer sentido, a existência de um conflito entre professores e alunos, e que estes apareçam muitas vezes de costas voltadas. Não se poderão fazer reformas com um impacto positivo na educação sem o apoio dos alunos e dos professores. Temos que contar com todos para criar um sistema de ensino de melhor qualidade.

Fico à espera dos vossos comentários. Comentem os vários tópicos desta sessão...e participem na dinamização desta iniciativa.

2 comentários:

  1. Infelizmente não tive oportunidade de estar presente neste primeiro debate, contudo ao ler as conclusões acho que à pontos de vista que não foram tidos em conta.
    Questionou-se as diferenças entre ensino privado e público. Ora não há a mínima possibilidade de estes serem iguais. No ensino privado existe selecção de alunos, ou seja, em muitos dos colégios (que se encontram no topo do ranking) se um aluno começa a ter muitas negativas e reprova, e se ainda se acrescentar que ele já teve faltas disciplinares o colégio informa os pais que no próximo ano não existirá lugar para o aluno naquele estabelecimento de ensino. Numa escola pública tal não pode acontecer, vendo nós alunos com 6, 7,...10 faltas disciplinares por ano e que continuam lá. Não selecção de alunos. Outro aspecto dos rankings é que temos de comparar o número de exames e alunos. Não é possível comparar colégios que tem 26 alunos no 12 ano com escolas públicas que tem entre alunos internos e alunos autopropostos a exame (que os colégios não admitem) 100, 300, 500 alunos. Não é possível comparar tais factos.
    Mais se nestes colégios um aluno merecer reprovar e os pais não concordarem no colégio passam o filho mas dizem que no próximo ano ele não pode lá ficar, enquanto no ensino público os pais podem não aceitar a reprovação do filho e ele no próximo ano fica na mesma escola no ano seguinte…..
    Em relação aos 12ºs anos vê-se que não estão muito dentro do assunto. O facto de se fazer greve não quer dizer que os professores de livre vontade, sem que sejam obrigados a tal, dêem aulas extras ou estejam disponíveis para os ajudar fora das aulas. Conheço vários casos em que tal ocorreu e é preciso ver que a maioria das greves/manifestações dos professores foram realizadas a sábados e ao final dos dias da semana. Tal não afecta assim tanto os alunos. O que se fala na comunicação social é uma campanha de desinformação que o Ministério da Educação lançou para tentar controlar os danos.
    Peço desculpa por discordar daqueles que defendem o sistema de cotas, mas vê-se que não estão por dentro da situação. Uma turma de um ano qualquer do ensino pode ter quantos 5 ou 4 se quiser desde que os alunos se esforcem. Na avaliação dos professores tal não é possível. Vou dar o caso de uma escola secundária no porto que tem ensino desde o 5º ano até ao 12º ano, lecciona cursos profissionais básico e secundário, cursos das novas oportunidades, e ensino nocturno. Tem mais de 150 professores, contudo naquele agrupamento (ou seja naquela escola mais as 2 de ensino básico associadas e uma de ensino primário) só pode existir, graças às cotas, 2 Excelentes, 4 Mt Bons e 6 Bons o resto Satisfaz ou Não Satisfaz. Isto é adequado a onde?
    Fico surpreendido por existirem pessoas que compreendam isso!!!
    Aguardo por novos debates,
    Com os meus mais cordiais cumprimentos sociais democratas
    Carlos Almeida
    carloscenfa@gmail.com
    P.S. Só para que fique claro não sou professor, nem estudo para tal.

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  2. Caro Carlos Almeida,

    É com grande satisfação que li o teu comentário.

    Em primeiro lugar, gostaria de mencionar que o assunto das diferenças entre o ensino público e privado foi efectivamente mencionado. Apenas não incluí este ponto nas conclusões da 1ª sessão, pois tornaria as conclusões demasiado extensas e fugiria directamente ao assunto proposto em debate. Contudo, esta é uma matéria de grande importância, e que muito provavelmente, justificará a sua inclusão na lista de temas propostos a debate numa próxima sessão.

    Concordo inteiramente contigo quando dizes que não é possível comparar o ensino público e privado baseado exclusivamente nos “rankings”. Existem dois tipo de escolas no ensino privado: as que primam pela selecção dos alunos baseado no seu rendimento escolar, para que consigam figurar nas primeiras posições dos “rankings” nacionais; e as que recebem qualquer aluno, logo que tenham dinheiro para pagar as propinas, e que deixam os alunos passarem de ano sem qualquer rigor em termos de qualidade de aprendizagem.

    Tenho que discordar contigo no ponto do sistema de cotas para avaliação dos professores. Na prática, quando não existe um sistema de cotas, verificamos que globalmente todos os professores possuem notas positivas e praticamente indiferenciadas entre si. Este tipo de sistema não permite premiar os melhores professores e não incentiva ao seu constante aperfeiçoamento.
    Defendo um sistema de cotas, ligeiramente diferente ao que é proposto pelo Governo. Também não acredito que todas as escolas devam ter o mesmo número de professores tido como “excelentes” de forma proporcional. A minha experiência no ensino diz-me que existem escolas públicas que funcionam muito melhores do que outras, e que existem escolas públicas em que os conselhos directivos se preocupam com os alunos e com a “perfomance” global da escola. Do outro lado, temos conselhos directivos que apenas se preocupam com a sua progressão na carreira, e que não procuram enquadrar a sua escola no contexto sócio-educativo em que a sua escola se insere. Assim sendo, o sistema de cotas deve ser mais flexível e ajustado à “perfomance” global da escola. O Ministério da Educação deveria impor um sistema de quotas distinto para cada escola, dependendo da sua avaliação. Assim, teríamos os professores também empenhados em que a sua escola figurasse entre as melhores do sistema público nacional.

    Cumprimentos,
    Fernando Almeida.

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